diziam que era
forte, brava e corajosa
encontrou-se com o medo
e foi se atirar
Pelo gozo
Parece gosto?
Pela cama
Parece insana?
Pela vida
Fraqueja tímida
E quando o copo já não preenche mais
O corpo acuado não percebe mais os veios
Da pele cansada, da nuca molhada
Das pontas áridas dos dedos
O rosto de sobrancelhas apontadas para o centro
Desconfia
Do que não foi contemplado
Naqueles vinte anos em que tinhas
Desejo
Incômodos singelos
Sossego
E não sabias sequer
E não te importavas ainda
Com a chegada do tempo
E das mil e uma desculpas para adiar
A vida
O gozo
A cama
1 – Receio viver sem coragem
2 – Entre mim e o que há de melhor em mim, existe receio
Pipocos fotográficos: Meço o peso
Pipocos fotográficos: Midienforco
Pipocos fotográficos: Olho o quanto
Pipocos fotográficos: Ranjo o tempo
Pipocos fotográficos: Falo carro
Ensaio originalmente publicado no Facebook no #desafioP&B em novembro de 2014
Amiga ainda ficamos
Assim
Conversa meio aberta
Palavra inquieta
Que insiste no gargalo
Amiga
Num momento mais propício
Te digo
Era melhor ficar calada
Que cair na palavra errada
E ver os pés
Se meter pelas mãos
Amiga
Não vou mais lhe importunar
Esse samba não quer mais nada
Só insiste em me dizer
Que o caminho foi querer
Dizer só por dizer
Palavra errada
Estrada não guiada
Foi lá que fui querer
Insisti em não temer
E o assunto é pra lhe dizer
Em palavra
Solta sem querer
Por que é que fui dizer?
Palavra errada
Aos ícones, plena me dou
Dos índices? Desconfio
Os símbolos, tento quebrar
E se a gente tiver que viver essa paixão
Profundamente, viveremos
Se a gente tiver que sentir na pele esse tesão
Sem dúvidas, nos encontraremos
E se a gente tiver que viver um tempo
Teremos o nosso próprio
Pra sentir tudo o que queremos
E trocaremos olhares
Entenderemos pesares
E deixaremos razões para traz
Viveremos esse pedaço de nós
Em prol de nos sentirmos plenas
Serenas
Mulheres
Conversaremos pelos poros da pele
E pelas papilas,
Nossos sabores encontraremos
E no enlace dos lábios,
Por nossas línguas, nos amaremos
E por ternos suspiros ao pé do ouvido
A nós, nos teremos…
…Enfim.
Me disseram que debaixo dessa ponte
Muita água vai passar
Em longos segundos
Algo no silêncio me fez pausar
Desejei,
Mansa corrente transcorrer
E no intervalo desse tempo vi surgir
Densa torrente transformar
A vida e a poesia andam me ensinando a flertar
Mais com as miudezas
Andam me falando que é na leitura de entrelinhas
Que a gente aprende a levar certeza
Andam me contando que a nossa história é de riso, soluço
E surpresa
Que às vezes, tudo o que a gente quer ver
Vai às avessas
Que nas andanças, me dizem, a vida e a poesia
Pousarem vivas
Clarezas
Ver, ler e viver a timeline. Sentir-se constrangidamente humano.
Nascer, renascer e morrer. Sentidos e razões do girar desse mundo. Da vida em nós. Dos nós na vida. Tantos amados se indo. Tantas sementes nascidas. Muitas das vidas se renovando em parabéns. Ficamos aqui, meio que no caminho de seguir…
Andemos!
Ps. O ontem e hoje: dias tristes. Dias que alguns grandes queridos se doem no fundo. Dias que outros tantos queridos se amam, se casam, comemoram. Dias que outros se indignam. Dias que alguns só pensam em pequenezas e ódios verborrágicos.
Dia de parar e pensar: o que faço, mesmo, da vida?
Insistência de ser:
Viver ainda é a nossa maior resistência
Vivamos bem pra morrer melhor!
18 de junho de 2018
Seja-se pleno
Plena-se ser
Sinta-se só
Pra sentir inteiro
Inteire-se junto
Pra ser completo
24 de abril de 2018
Bora ser leve,
Levinho
Que vida voa
Feito passarinho
7 de maio de 2018
Existe um lugar em que os artitas se encontram
Existe um lugar que a sensibilidade confessa
Um lugar entre o gesto e o olhar que as palavras não cabem
Existe um lugar, nem cá, nem lá,
Um lugar do sentir
Esse mesmo lugar que se faz por poros, suspiros, vieses de olhares, sorrisos
Poetas se encontram
Se conversam, se trocam, se tocam sem pele, a sentir
Sem uma palavra rolar
Nas entrelinhas dos versos, conversas se vão
Os toques se encaixam e se vão
Certezas se vão
Existe um lugar
Um doce e intenso vão de um sublime lugar
Que só os poetas encontrarão
Porta-retratos em prateleiras
Não eternizam momentos
Promovem desencontros do tempo
Tornam-se ideais
Quando aquela vividez não existe mais
Fotografias digitais
Marcas curtidas, amadas
Produzem sentidos, choros, sorrisos
E quando uma parte se parte
Ao infinito da vida de alguém
Fotografia se esvai
Não é memória, não é lembrança
É além
É querência serena de tentar desviver
Num click! Amém!
Beijar a minha própria boca
Percorrer cada curva de mim
Me perder no mais sensível e penetrante olhar
Me aprofundar no desejo
Sentir cada arrepio dos poros
Por ali, escorrer
Me perder
No meu colo, me acolher
E por aí seguimos: olhando a morte pra entender a vida. Olhando a vida pra entender a morte.
Há, exatamente, três meses descobri que estava com câncer na tireóide. O chão se abriu, a parede ruiu e logo em seguida descobri que era um tipo com altíssimo índice de cura. Voltei a pisar no chão. Os números estavam do meu lado, me pontuou um amigo que tinha passado pela mesma doença. Gravei a boa sentença na cabeça e fui para o combate. A regra era: cirurgia, terapia, um tempo para ajustar o hormônio e pronto, tudo voltaria ao normal. Foi assim que alguns médicos me fizeram acreditar. Foi assim que alguns amigos e/ou conhecidos que passaram pela mesma situação (ou com entes próximos) tentaram me fazer acreditar. Só que não! Não foi assim que aconteceu. Não foi (não está sendo) tudo assim tão simples. Agradeço profundamente por não ter sido. Meu organismo se mostrou como um caso particular. Mas o mais importante foi descobrir que tinha muito entendimento pronto pra ser semeado nesse processo. Adoro pensar enquanto semeio! Mas já que os números estavam ao meu favor, não adiamos a planejada viagem. Foi incrível dividir o tempo dos pensamentos mais sérios (às vezes tensos) com as aulas de inglês, com o que deveríamos fazer nas horas vagas (comprar, passear, visitar, conhecer, etc) e conversar sobre o que viria pela frente. Reflexão. Sim, muita reflexão, minha e da Adriana Carvalho que vive junto esse momento comigo. De volta ao Brasil, hospital, avental, cirurgia e lá se foram duas paratireóides, a tireóide inteira, seus três tumores malvados e minha capacidade de produzir hormônios dali. Dores, muitas delas. Pós-cirurgia é chato… um dia a mais de hospital e comecei a passar mal. Ops! Acabei saindo do script. Alguns protocolos furaram. Passei muito mal e passo até hoje, com muito menor intensidade, é certo, mas ainda sinto boa parte dos efeitos. Além do clássico estômago devolvedor de mal-entendidos gastronômicos, o cansaço exacerbado e os músculos desobedientes. Vontade?! No máximo, ir dar bom dia, boa tarde, boa noite para as orquídeas e hortaliças orgânicas do quintal. Sistema quarto x quarto. Quarto – banheiro – quarto – sala – quarto – cozinha – quarto – quintal (varanda) – quarto. Está de ótimo tamanho. Isso, sem comentar a fase pré, durante e pós-terapia radioativa. Se eu relatar, vai ficar parecendo ladainha e eu prefiro tirar um pouco do peso. Disso tudo, o mais maravilhoso foi me envolver de um calor de amor indescritível. Fiquei pequena, sim, mas reconhecer a grandeza de estar ao lado, ouvir a voz, sentir os cuidados de quem a gente ama e escolheu pra ser família, não tem descrição de tamanha gratidão de amor.
Mas o que expresso é relato, não é reclame. Apesar dos incômodos que ainda insistem, cada segundo tem sido uma dádiva de reflexão, pois tem me permitido pensar sobre as coisas, sobre os mundos, os projetos, as ideias, as importâncias, as relevâncias, as reações, os entendimentos. Ficar em estado de hipotireoidismo severo por tanto tempo, me deixou calma, contemplativa, serena, quieta, lenta. Muito lenta. Muito lenta, mesmo, mesmo, mesmo. Isso foi e está sendo importante. Olho no retrovisor da memória de poucos meses atrás e consigo me enxergar ligada em 550 volts, trabalhando muitas vezes 14h/dia, lotada de afazeres e responsabilidades, com quase todos os prazos estourados ou prestes a estourar. Passava, até o final do semestre passado, o dia lamentando (com razão) o cansaço extremo. Uma estafa automatizada que me fazia cada vez mais frustrada, mais cansada e com a sensação de dever incompleto.
Mas eu fui obrigada a parar e ver o mundo em câmera lenta. Tem seus prejuízos, claro: o salário minguado pelo INSS, a bicicleta empoeirada, o ânimo desanimado, os tais mal-entendidos gastronômicos insistentes, os cansaços persistentes… Mas tudo isso é muito rico e me dá a oportunidade de vivenciar outras perspectivas. O fato é que com a internet e as mídias sociais, o mundo me mantém muito ativa, com uma janela que me transporta e faz permanecerem vivas, as minhas inquietações discursivas. Mas vejo, aqui desta janela, quase todo mundo ainda imerso no corre-corre, no “tô sem tempo“, “perdi o prazo“, “cansei do dia”, “quero férias logo”, ou no “vou ter que desmarcar”, que viraram frases prontas da rotina de quase todos nós. Eu estava nessa. Talvez eu volte em breve para esse redemoinho frenético. Tomara que não! Tomara que eu releia este texto e me faça relembrar deste tempo presente e que possa fazer dele, presença certa no futuro bem próximo. Eu quero manter o tempo da contemplação. Eu quero manter o olhar que dá voltas pelo lado de fora. Eu quero manter a paciência para o entendimento. Sem explodir por dentro. Sem explodir por fora.
Mas, antes de tanto querer, eu preciso agradecer, pois voltei a perceber a saudade, voltei a sentir saudades sinceras. Da família, dos amigos (dos idos e dos ‘hojes’), de muitos queridos colegas de trabalho, dos alunos que são pérolas, das crianças, dos bichos. Sinto saudades!! Muitas saudades! Não estou mais esgotada. Não sobreponho a estafa aos melhores dos meus meus pensamentos. É muito rico pensar em alguém que gosto e sentir vontade de ficar alguns minutos conversando, sem pressa. Tem tantos de vocês, meus amigos, que estão vindo e voltando assim, em minhas saudades serenas. É maravilhoso sentir – em tempo e no tempo – o lado mais puro da saudade.
Sinto saudades sinceras!
Texto feito e publicado no Facebook em 3 de setembro de 2014
Pairo em platôs de sonhos
Sempre à procura de algum lugar longe de mim aqui e agora
Vivo dos respiros dos desejos
Tecendo histórias do impossível viver
Pairo em platôs de encantos
Ando num tempo que não é meu, nem seu, nem de lugar algum
Segredos de mim revelados
Nas costuras das minhas próprias veias
Suspiros platônicos de imaginação
Ouço gotas de chuva a respingar
Ouço com elas, soluços
Ouço o balanço do meu manacá
Ouço o pouso do tempo
Contemplo
Por dentro
Ouço ruídos
Ouço silêncios
Bem mais sonoros no fundo de mim
Que nas plumas ao vento
O que me liga é essência
O que me torna
O que me vida, reticência
O que me forma
O que me olvida, me seduz,
O que refaz
Me transforma, liquefaz
Tenho um amor aqui ao lado
Um amor de alma
Um amor de pele calma
Um amor de mãos corajosas
Um amor de seios fartos
Um amor de dedos fortes
Tenho um amor mulher aqui ao lado
Que se deita e me encaixa
Sob os mesmos lençóis
Que sutil me entrelaça
E em mim me desperta
O arrepio nas coxas
Tenho um amor mulher aqui ao lado
Um amor que me inunda
Um amor que aprofunda
O melhor do encontro
Mulher
Com outra mulher
Teus olhos profundos
Me afogam
Tua pele serena
Me arrepia
Teu corpo em curvas
Me sussurra
Teu gesto sutil
Me agita
Teus tons delicados
Me afagam
E me chamam
E me queimam os sentidos
Despertam internos ruídos
Que invadem meu ser
Silenciosamente,
Te lembrar me consome
Teu chamado me grita
Entre razões que me testam
E imaginários que insistem
Ideias irrompem
Desejos sucumbem
Devaneios assumem
O querer que me assombra
Estava tudo nos eixos, sob controle, quieto, dormindo….
…aí vem o sonho e, pimba!, acorda tudo de novo.
3 de agosto de 2010
VAI TER MAIS LUTA!
Mas que luta é essa?
Minha luta não é de ódio, não é de sangue. Nem de raiva, nem de perplexidade.
Essa LUTA é para manter vivas e ativas (VERMELHAS), a liberdade, a democracia e a esquerda nesse país.
A luta não é pontual e nem pessoal. Não é só contra o impeachment. O processo de impeachment é nosso motivo mais presente de GRITO, pois estão querendo sufocar as batalhas já vencidas. Essa luta não é pelo PT. É a LUTA de quem vive para defender os direitos sociais. É a LUTA de quem quer comida honesta (desembalada, despoluída de agrotóxicos) na boca de todos. É a LUTA de quem quer ver como prioridade, a SAÚDE, a EDUCAÇÃO, a CULTURA, as causas das MINORIAS desprivilegiadas, a LAICIDADE do Estado, a divisão das TERRAS latifundiárias ociosas, a MOBILIDADE urbana para além dos automóveis particulares. A LUTA é pela comunidade LGBTTTQIA, pelas mulheres, pelos negros, pela democratização dos meios de comunicação, pela terra distribuída a quem é sem. É a LUTA pela preservação plena do MEIO-AMBIENTE e dos DIREITOS indigenistas garantidos, em detrimento dos lucros das mega-empresas e multinacionais, quase sempre travestidos de melhoria da ECONOMIA do país. Por acaso, você já notou que a ECONOMIA é a única medida da mídia para o crescimento do país? Não que não seja importante, mas não pode ser um fim em si mesmo. Quem tem que estar vivo e com saúde para crescer é a sociedade, são os povos, as terras, as matas, as culturas. Quem disse que só os gigantes da indústria podem empregar? O que eles podem é pagar. Aliás, sem escrúpulos, pagam o que for preciso para se manterem soberanos no controle dos poderes.
Embora eu tenha plena ciência de que nem todas essas lutas o PT conseguiu abraçar nos últimos mandatos presidenciais (atingindo com dureza quem é de esquerda), é urgente defender a possibilidade da manutenção desses rumos no nosso país. Sem ufanismo. O que o país viveu de avanço em ALGUMAS dessas áreas (especialmente no campo social) nos últimos anos, é inquestionável. As alianças do passado, feitas com uma base descomprometida com tais questões ameaçam, agora, a nossa pueril democracia. Ela começava a andar em passo firme. Tão jovem, já querem lhe arrancar as duas pernas, tendo os cirurgiões da grande mídia, o serrote pronto na mão.
POVO DE LUTA
VAI TER MAIS LUTA! E não é só nos próximos dez dias ou seis meses contra o impeachment. Esse é só o início da LUTA. Vai ter mais luta em Outubro, vai ter mais luta em 2018 e vai ter mais LUTA TODOS OS DIAS.
A esquerda foi inflamada e volta a se reunir para as milhares de batalhas que ainda estão por vir.
Meu vermelho não é de sangue nem de partido. É de união por uma esquerda que LUTA.
Por amor pela vida.
Sigamos lutando.
A morte não foi feita pra ser entendimento
A morte é dessabida, cheia de desrazão
Foi costurada pra ser aguentamento
Bordada de interrogação.
Das mortes que eu senti
Tentei delas razoar, resisti.
E se viveram depois mais vivas
Foi porque num insisti.
Esquisitice essa de morrer
E logo de ser o mais lembrado,
Mais vivinho na querência
De viver aqui do lado.
Até aguento que se foram
Só não sei bem mais por quê,
Por que é que caminharam,
Antes deu, antes docê.
16 de agosto de 2015