após a quebra
foi seguir
no tempo
oco
na vida
opaca
na estrada
vazia
Viu um abismo profundo
Um lugar no olho do mundo
Que a fez se perder
Foi coragem tamanha
Uma força e tanta
Até o olho arder
Viveu em cada segundo
Buscando refúgios
Pra conseguir amanhecer
Tentava suportar o seu corpo
Todo o desconforto
De quase enlouquecer
Tentou seguir pela vida
Senhora incontida
Em pouco anoitecer
10 de outubro de 2016
Vejo nas ruas
Um monte de cachecóis
E longos sobretudos a caminhar
Sobre botas de cano alto
Ou seus engraxados sapatos
Que no toc toc dos passos
Fazem ouvir elegância no ar
Passeiam, às vezes,
Luvas e gorros
Recheados de corpos aquecidos
Acalentados logo pela manhã
Pelas lãs macias, compradas a dedo
E nas calçadas da Avenida Paulista
Abandonados ao chão,
Tênis sem cadarços,
Em farrapos gelados
Pela cidade fria
Que deles, só faz se desviar
Pelo gozo
Parece gosto?
Pela cama
Parece insana?
Pela vida
Fraqueja tímida
E quando o copo já não preenche mais
O corpo acuado não percebe mais os veios
Da pele cansada, da nuca molhada
Das pontas áridas dos dedos
O rosto de sobrancelhas apontadas para o centro
Desconfia
Do que não foi contemplado
Naqueles vinte anos em que tinhas
Desejo
Incômodos singelos
Sossego
E não sabias sequer
E não te importavas ainda
Com a chegada do tempo
E das mil e uma desculpas para adiar
A vida
O gozo
A cama
Aos ícones, plena me dou
Dos índices? Desconfio
Os símbolos, tento quebrar
E se a gente tiver que viver essa paixão
Profundamente, viveremos
Se a gente tiver que sentir na pele esse tesão
Sem dúvidas, nos encontraremos
E se a gente tiver que viver um tempo
Teremos o nosso próprio
Pra sentir tudo o que queremos
E trocaremos olhares
Entenderemos pesares
E deixaremos razões para traz
Viveremos esse pedaço de nós
Em prol de nos sentirmos plenas
Serenas
Mulheres
Conversaremos pelos poros da pele
E pelas papilas,
Nossos sabores encontraremos
E no enlace dos lábios,
Por nossas línguas, nos amaremos
E por ternos suspiros ao pé do ouvido
A nós, nos teremos…
…Enfim.
Me disseram que debaixo dessa ponte
Muita água vai passar
Em longos segundos
Algo no silêncio me fez pausar
Desejei,
Mansa corrente transcorrer
E no intervalo desse tempo vi surgir
Densa torrente transformar
A vida e a poesia andam me ensinando a flertar
Mais com as miudezas
Andam me falando que é na leitura de entrelinhas
Que a gente aprende a levar certeza
Andam me contando que a nossa história é de riso, soluço
E surpresa
Que às vezes, tudo o que a gente quer ver
Vai às avessas
Que nas andanças, me dizem, a vida e a poesia
Pousarem vivas
Clarezas
Seja-se pleno
Plena-se ser
Sinta-se só
Pra sentir inteiro
Inteire-se junto
Pra ser completo
24 de abril de 2018
Existe um lugar em que os artitas se encontram
Existe um lugar que a sensibilidade confessa
Um lugar entre o gesto e o olhar que as palavras não cabem
Existe um lugar, nem cá, nem lá,
Um lugar do sentir
Esse mesmo lugar que se faz por poros, suspiros, vieses de olhares, sorrisos
Poetas se encontram
Se conversam, se trocam, se tocam sem pele, a sentir
Sem uma palavra rolar
Nas entrelinhas dos versos, conversas se vão
Os toques se encaixam e se vão
Certezas se vão
Existe um lugar
Um doce e intenso vão de um sublime lugar
Que só os poetas encontrarão
Porta-retratos em prateleiras
Não eternizam momentos
Promovem desencontros do tempo
Tornam-se ideais
Quando aquela vividez não existe mais
Fotografias digitais
Marcas curtidas, amadas
Produzem sentidos, choros, sorrisos
E quando uma parte se parte
Ao infinito da vida de alguém
Fotografia se esvai
Não é memória, não é lembrança
É além
É querência serena de tentar desviver
Num click! Amém!
Beijar a minha própria boca
Percorrer cada curva de mim
Me perder no mais sensível e penetrante olhar
Me aprofundar no desejo
Sentir cada arrepio dos poros
Por ali, escorrer
Me perder
No meu colo, me acolher
Não tenho medo a temer. Porque com o que tenho a perder, só tenho a ganhar.
Pipoco é repente
Explosão de verso
Implosão de impulso reverso
Pipoco é sentido
Atento, medido
Palavrinha ideal
Pipoco atemporal
Ouço gotas de chuva a respingar
Ouço com elas, soluços
Ouço o balanço do meu manacá
Ouço o pouso do tempo
Contemplo
Por dentro
Ouço ruídos
Ouço silêncios
Bem mais sonoros no fundo de mim
Que nas plumas ao vento
O que me liga é essência
O que me torna
O que me vida, reticência
O que me forma
O que me olvida, me seduz,
O que refaz
Me transforma, liquefaz
Tenho um amor aqui ao lado
Um amor de alma
Um amor de pele calma
Um amor de mãos corajosas
Um amor de seios fartos
Um amor de dedos fortes
Tenho um amor mulher aqui ao lado
Que se deita e me encaixa
Sob os mesmos lençóis
Que sutil me entrelaça
E em mim me desperta
O arrepio nas coxas
Tenho um amor mulher aqui ao lado
Um amor que me inunda
Um amor que aprofunda
O melhor do encontro
Mulher
Com outra mulher
Teus olhos profundos
Me afogam
Tua pele serena
Me arrepia
Teu corpo em curvas
Me sussurra
Teu gesto sutil
Me agita
Teus tons delicados
Me afagam
E me chamam
E me queimam os sentidos
Despertam internos ruídos
Que invadem meu ser
Silenciosamente,
Te lembrar me consome
Teu chamado me grita
Entre razões que me testam
E imaginários que insistem
Ideias irrompem
Desejos sucumbem
Devaneios assumem
O querer que me assombra
Não há metáfora
Para subentender
A dureza crua
Dos dias do mundo
Não há como dissimular
Ou encobrir
A fria certeza
Do tempo ruir
Dias sombrios
Tardes sem paz
Gritos de horror
Medo. Caos.
Intolerância é só de existir
Das vielas e guetos
Aos cantos destroçados de Alepo
Nem lágrima sobrou pra cair
Marcha ré engatada
Do Brasil golpeado
Ao Trump domínio
Delírio D.C.
Sucumbe-se
Sepulcra-se
Desacredita-se
Desfaz-se
A vida,
A sensatez,
A harmonia,
O amor,
O sonho,
Sorriso
Desata
Guerreia
E mata
Mas encarna meu ser
Inebriada espera
Por esfacelados pedaços
A refazer
19 de dezembro de 2016
Estava tudo nos eixos, sob controle, quieto, dormindo….
…aí vem o sonho e, pimba!, acorda tudo de novo.
3 de agosto de 2010
A morte não foi feita pra ser entendimento
A morte é dessabida, cheia de desrazão
Foi costurada pra ser aguentamento
Bordada de interrogação.
Das mortes que eu senti
Tentei delas razoar, resisti.
E se viveram depois mais vivas
Foi porque num insisti.
Esquisitice essa de morrer
E logo de ser o mais lembrado,
Mais vivinho na querência
De viver aqui do lado.
Até aguento que se foram
Só não sei bem mais por quê,
Por que é que caminharam,
Antes deu, antes docê.
16 de agosto de 2015
A saudade, às vezes, faz o nó no peito contorcer todos os sentidos.
❤ Bira
9 de Julho de 2015
Jogue as armas pela janela
Fique mais leve
Inspire, expire e voe
Sobrevoe-se.
Converta outrem ao seu lugar
Desloque-se para lá
Troque erros por riscos
Nervos por risos.
E pergunte-se,
E responda-te
E torne-se a tornar por lá e cá
Por cá e lá, sobrevoando-se
Sem se negar.
10 de Maio de 2015
O que será pra escolher?
Não se engane ou se iluda,
Não vai te poder
Olha bem pro descampo
Lá,
No encosto da encosta do céu
Passeia a resposta
Disposta
A revelar ‘contecer
Decida, não
Descubra
Aquilo que só o deixa-se ir
Vai susurrar pra você
04 de abril de 2011
Tell me what you think
How you are walking
Around your mind
Around your meanings
Tell me other things
How you describe
The smell of the wind
Or the image of the reasoning
Don’t tell me anymore
Just leave, just leave growing
The seeds of the sense
That lives in your in
17 de agosto de 2014
Mutações inquietas do mundo sobre nós
Mutações dos nós inquietos da vida
Mutações celulares de alcances estelares
Mutações, mutações, mutações
Mutações de rizomas gananciosos
Sobre a vida,
Sobre o mundo,
Sobre o tempo,
Sobre a Terra,
Sobre a terra,
Sobre a fruta,
Sobre o pão,
Sobre o chão,
Sobre as águas,
Sobre as ondas,
Sobre as sobras,
Sobre o ar,
Sobre a luz,
Sobre o vício,
Sobre viver,
Sobre o ser,
E o saber,
Saber-se ser em mutações.
28 de Julho de 2014
O Tempo não tem a pressa
…
A pressa não tem o Tempo
…
Quem vive o Tempo, sente o vivo do tempo
…
Quem sente a pressa, mais se apressa
…
Quem se apressa, não aprecia o Tempo
…
Perde o fio, perde o apreço, perde o tempo do Tempo
…
.
.
.
28 de Julho de 2014
A vida semente
No tempo presente
Pressente
Atente
Invente
Intente
Crescer
02 de maio de 2013
Em São Paulo
Atabalhoada
Saio apressada
Hora marcada
Sobre a bancada
Esqueci o celular
Incomodada
Me sinto pelada
Mas vou continuar
Na caminhada
Desconetada
Liberdade a reinar.
02 de maio de 2013
reeditado em 08 de agosto de 2014
O tempo não corre
O tempo não arrasta
O tempo não apressa
O tempo não voa
O tempo não é pretérito
É passado
Por quem sente a travessia
E na vida, se assenta
O tempo não entra em guerra
. Mas tem quem vai
. E luta contra
O tempo não é moeda
. Mas tem quem acha
. Que perde tempo
O tempo não se dá
. Mas tem quem quer
. Ganhar um tempo
O tempo não tem tempo
Pra ficar destemperado
Pelo nosso descontento
Sê atento!
07 de fevereiro de 2013
Em algum lugar
Larguei menina cândida
Perdida por aí
Foi desmazelo, descuido, descrença
Na vida ingênua
Na paciência inquieta
Na inocência crédula
De que um dia entraria
Na linha reta
Nos campos concretos
No rol de muralhas
Que a ciência daria
A inocência, cândida,
Menina moleca,
Se perdeu por aí.
A buscar a insistência
Que só aqueles que não sabem julgar
Encontram em si.
02 de fevereiro de 2013
Não tenho idade
Alguém duvida?
Amnésias de vida
Memórias pra inventar
Não tenho idade
Passagem de ida?
Viver destemida
Histórias pra cantar
O tempo que passa
É atraso de vida?
Não, é senhor de divisas
Não vai ficar pra contar
16 de novembro de 2012
E enquanto me sobrarem ideais,
Me concederei licenças liberais
Ainda que sejam sobras
. ideológicas
Ainda que sejam licenças
. poéticas
23 de agosto de 2012
O que me liga é essência
O que me torna
O que me vida é reticência
Me transforma
O que me olvida, me seduz,
Me transtorna,
Liquefaz
16 de março de 2012