Titubeante
4 agoViu um abismo profundo
Um lugar no olho do mundo
Que a fez se perder
Foi coragem tamanha
Uma força e tanta
Até o olho arder
Viveu em cada segundo
Buscando refúgios
Pra conseguir amanhecer
Tentava suportar o seu corpo
Todo o desconforto
De quase enlouquecer
Tentou seguir pela vida
Senhora incontida
Em pouco anoitecer
10 de outubro de 2016
Inverno
3 agoVejo nas ruas
Um monte de cachecóis
E longos sobretudos a caminhar
Sobre botas de cano alto
Ou seus engraxados sapatos
Que no toc toc dos passos
Fazem ouvir elegância no ar
Passeiam, às vezes,
Luvas e gorros
Recheados de corpos aquecidos
Acalentados logo pela manhã
Pelas lãs macias, compradas a dedo
E nas calçadas da Avenida Paulista
Abandonados ao chão,
Tênis sem cadarços,
Em farrapos gelados
Pela cidade fria
Que deles, só faz se desviar
Tímida
17 julPelo gozo
Parece gosto?
Pela cama
Parece insana?
Pela vida
Fraqueja tímida
E quando o copo já não preenche mais
O corpo acuado não percebe mais os veios
Da pele cansada, da nuca molhada
Das pontas áridas dos dedos
O rosto de sobrancelhas apontadas para o centro
Desconfia
Do que não foi contemplado
Naqueles vinte anos em que tinhas
Desejo
Incômodos singelos
Sossego
E não sabias sequer
E não te importavas ainda
Com a chegada do tempo
E das mil e uma desculpas para adiar
A vida
O gozo
A cama
Pipocâncias: receio
17 jul1 – Receio viver sem coragem
2 – Entre mim e o que há de melhor em mim, existe receio
Autorretrato contemporâneo
17 jul
Pipocos fotográficos: Meço o peso

Pipocos fotográficos: Midienforco

Pipocos fotográficos: Olho o quanto

Pipocos fotográficos: Ranjo o tempo

Pipocos fotográficos: Falo carro
Ensaio originalmente publicado no Facebook no #desafioP&B em novembro de 2014
Juana queria
13 julJuana tinha pouca idade, mas muitas vontades.
Uma hora Juana jogava bola, na outra penteava sua única boneca.
Juana descia o morro na bicicleta só pra sentir o vento no rosto.
Depois subia tudo de novo, empurrando a magrela.
Ela tinha mania de escrever e rabiscar em qualquer folha de papel que via pela frente.
Quando não tinha papel, Juana pegava uma varetinha e riscava o chão.
Juana fazia graça para as visitas e gostava de decorar músicas.
Mas algo bem lá no fundo, que nem ela sabia explicar, atrapalhava Juana
Juana queria tentar ser do jeito que ela queria.
Disseram pra Juana ter paciência que a hora certa iria chegar.
Juana ficou triste. Ela não podia esperar.
Olharam bem no fundo do olho de Juana e disseram com um grande sorriso que ela teria um futuro brilhante.
Os olhos de Juana não brilharam
Ela ficou quieta, pensantiva só queria ter o presente.
Conversas
13 julAmiga ainda ficamos
Assim
Conversa meio aberta
Palavra inquieta
Que insiste no gargalo
Amiga
Num momento mais propício
Te digo
Era melhor ficar calada
Que cair na palavra errada
E ver os pés
Se meter pelas mãos
Amiga
Não vou mais lhe importunar
Esse samba não quer mais nada
Só insiste em me dizer
Que o caminho foi querer
Dizer só por dizer
Palavra errada
Estrada não guiada
Foi lá que fui querer
Insisti em não temer
E o assunto é pra lhe dizer
Em palavra
Solta sem querer
Por que é que fui dizer?
Palavra errada
Sobre os objetos de mim
10 julAos ícones, plena me dou
Dos índices? Desconfio
Os símbolos, tento quebrar
Enfim
10 julE se a gente tiver que viver essa paixão
Profundamente, viveremos
Se a gente tiver que sentir na pele esse tesão
Sem dúvidas, nos encontraremos
E se a gente tiver que viver um tempo
Teremos o nosso próprio
Pra sentir tudo o que queremos
E trocaremos olhares
Entenderemos pesares
E deixaremos razões para traz
Viveremos esse pedaço de nós
Em prol de nos sentirmos plenas
Serenas
Mulheres
Conversaremos pelos poros da pele
E pelas papilas,
Nossos sabores encontraremos
E no enlace dos lábios,
Por nossas línguas, nos amaremos
E por ternos suspiros ao pé do ouvido
A nós, nos teremos…
…Enfim.
Águas a passar
10 julMe disseram que debaixo dessa ponte
Muita água vai passar
Em longos segundos
Algo no silêncio me fez pausar
Desejei,
Mansa corrente transcorrer
E no intervalo desse tempo vi surgir
Densa torrente transformar
Andança
8 julA vida e a poesia andam me ensinando a flertar
Mais com as miudezas
Andam me falando que é na leitura de entrelinhas
Que a gente aprende a levar certeza
Andam me contando que a nossa história é de riso, soluço
E surpresa
Que às vezes, tudo o que a gente quer ver
Vai às avessas
Que nas andanças, me dizem, a vida e a poesia
Pousarem vivas
Clarezas
Estranheza diária
19 junVer, ler e viver a timeline. Sentir-se constrangidamente humano.
Nascer, renascer e morrer. Sentidos e razões do girar desse mundo. Da vida em nós. Dos nós na vida. Tantos amados se indo. Tantas sementes nascidas. Muitas das vidas se renovando em parabéns. Ficamos aqui, meio que no caminho de seguir…
Andemos!
Ps. O ontem e hoje: dias tristes. Dias que alguns grandes queridos se doem no fundo. Dias que outros tantos queridos se amam, se casam, comemoram. Dias que outros se indignam. Dias que alguns só pensam em pequenezas e ódios verborrágicos.
Dia de parar e pensar: o que faço, mesmo, da vida?
Pipocâncias: insistência
18 junInsistência de ser:
Viver ainda é a nossa maior resistência
Vivamos bem pra morrer melhor!
18 de junho de 2018
Ser junto
18 junSeja-se pleno
Plena-se ser
Sinta-se só
Pra sentir inteiro
Inteire-se junto
Pra ser completo
24 de abril de 2018
Pipocâncias: leve, levinho
18 junBora ser leve,
Levinho
Que vida voa
Feito passarinho
7 de maio de 2018
Um doce intenso lugar
12 junExiste um lugar em que os artitas se encontram
Existe um lugar que a sensibilidade confessa
Um lugar entre o gesto e o olhar que as palavras não cabem
Existe um lugar, nem cá, nem lá,
Um lugar do sentir
Esse mesmo lugar que se faz por poros, suspiros, vieses de olhares, sorrisos
Poetas se encontram
Se conversam, se trocam, se tocam sem pele, a sentir
Sem uma palavra rolar
Nas entrelinhas dos versos, conversas se vão
Os toques se encaixam e se vão
Certezas se vão
Existe um lugar
Um doce e intenso vão de um sublime lugar
Que só os poetas encontrarão
Fotografia
12 junPorta-retratos em prateleiras
Não eternizam momentos
Promovem desencontros do tempo
Tornam-se ideais
Quando aquela vividez não existe mais
Fotografias digitais
Marcas curtidas, amadas
Produzem sentidos, choros, sorrisos
E quando uma parte se parte
Ao infinito da vida de alguém
Fotografia se esvai
Não é memória, não é lembrança
É além
É querência serena de tentar desviver
Num click! Amém!
O mais impossível dos desejos
12 junBeijar a minha própria boca
Percorrer cada curva de mim
Me perder no mais sensível e penetrante olhar
Me aprofundar no desejo
Sentir cada arrepio dos poros
Por ali, escorrer
Me perder
No meu colo, me acolher
Pipocâncias: viver e morrer
12 junE por aí seguimos: olhando a morte pra entender a vida. Olhando a vida pra entender a morte.
Pipocâncias: Perdas é ganho
14 abrNão tenho medo a temer. Porque com o que tenho a perder, só tenho a ganhar.
Ter o tempo pra sentir saudades: relato de quem tem vivido o mundo da janela
9 abrHá, exatamente, três meses descobri que estava com câncer na tireóide. O chão se abriu, a parede ruiu e logo em seguida descobri que era um tipo com altíssimo índice de cura. Voltei a pisar no chão. Os números estavam do meu lado, me pontuou um amigo que tinha passado pela mesma doença. Gravei a boa sentença na cabeça e fui para o combate. A regra era: cirurgia, terapia, um tempo para ajustar o hormônio e pronto, tudo voltaria ao normal. Foi assim que alguns médicos me fizeram acreditar. Foi assim que alguns amigos e/ou conhecidos que passaram pela mesma situação (ou com entes próximos) tentaram me fazer acreditar. Só que não! Não foi assim que aconteceu. Não foi (não está sendo) tudo assim tão simples. Agradeço profundamente por não ter sido. Meu organismo se mostrou como um caso particular. Mas o mais importante foi descobrir que tinha muito entendimento pronto pra ser semeado nesse processo. Adoro pensar enquanto semeio! Mas já que os números estavam ao meu favor, não adiamos a planejada viagem. Foi incrível dividir o tempo dos pensamentos mais sérios (às vezes tensos) com as aulas de inglês, com o que deveríamos fazer nas horas vagas (comprar, passear, visitar, conhecer, etc) e conversar sobre o que viria pela frente. Reflexão. Sim, muita reflexão, minha e da Adriana Carvalho que vive junto esse momento comigo. De volta ao Brasil, hospital, avental, cirurgia e lá se foram duas paratireóides, a tireóide inteira, seus três tumores malvados e minha capacidade de produzir hormônios dali. Dores, muitas delas. Pós-cirurgia é chato… um dia a mais de hospital e comecei a passar mal. Ops! Acabei saindo do script. Alguns protocolos furaram. Passei muito mal e passo até hoje, com muito menor intensidade, é certo, mas ainda sinto boa parte dos efeitos. Além do clássico estômago devolvedor de mal-entendidos gastronômicos, o cansaço exacerbado e os músculos desobedientes. Vontade?! No máximo, ir dar bom dia, boa tarde, boa noite para as orquídeas e hortaliças orgânicas do quintal. Sistema quarto x quarto. Quarto – banheiro – quarto – sala – quarto – cozinha – quarto – quintal (varanda) – quarto. Está de ótimo tamanho. Isso, sem comentar a fase pré, durante e pós-terapia radioativa. Se eu relatar, vai ficar parecendo ladainha e eu prefiro tirar um pouco do peso. Disso tudo, o mais maravilhoso foi me envolver de um calor de amor indescritível. Fiquei pequena, sim, mas reconhecer a grandeza de estar ao lado, ouvir a voz, sentir os cuidados de quem a gente ama e escolheu pra ser família, não tem descrição de tamanha gratidão de amor.
Mas o que expresso é relato, não é reclame. Apesar dos incômodos que ainda insistem, cada segundo tem sido uma dádiva de reflexão, pois tem me permitido pensar sobre as coisas, sobre os mundos, os projetos, as ideias, as importâncias, as relevâncias, as reações, os entendimentos. Ficar em estado de hipotireoidismo severo por tanto tempo, me deixou calma, contemplativa, serena, quieta, lenta. Muito lenta. Muito lenta, mesmo, mesmo, mesmo. Isso foi e está sendo importante. Olho no retrovisor da memória de poucos meses atrás e consigo me enxergar ligada em 550 volts, trabalhando muitas vezes 14h/dia, lotada de afazeres e responsabilidades, com quase todos os prazos estourados ou prestes a estourar. Passava, até o final do semestre passado, o dia lamentando (com razão) o cansaço extremo. Uma estafa automatizada que me fazia cada vez mais frustrada, mais cansada e com a sensação de dever incompleto.
Mas eu fui obrigada a parar e ver o mundo em câmera lenta. Tem seus prejuízos, claro: o salário minguado pelo INSS, a bicicleta empoeirada, o ânimo desanimado, os tais mal-entendidos gastronômicos insistentes, os cansaços persistentes… Mas tudo isso é muito rico e me dá a oportunidade de vivenciar outras perspectivas. O fato é que com a internet e as mídias sociais, o mundo me mantém muito ativa, com uma janela que me transporta e faz permanecerem vivas, as minhas inquietações discursivas. Mas vejo, aqui desta janela, quase todo mundo ainda imerso no corre-corre, no “tô sem tempo“, “perdi o prazo“, “cansei do dia”, “quero férias logo”, ou no “vou ter que desmarcar”, que viraram frases prontas da rotina de quase todos nós. Eu estava nessa. Talvez eu volte em breve para esse redemoinho frenético. Tomara que não! Tomara que eu releia este texto e me faça relembrar deste tempo presente e que possa fazer dele, presença certa no futuro bem próximo. Eu quero manter o tempo da contemplação. Eu quero manter o olhar que dá voltas pelo lado de fora. Eu quero manter a paciência para o entendimento. Sem explodir por dentro. Sem explodir por fora.
Mas, antes de tanto querer, eu preciso agradecer, pois voltei a perceber a saudade, voltei a sentir saudades sinceras. Da família, dos amigos (dos idos e dos ‘hojes’), de muitos queridos colegas de trabalho, dos alunos que são pérolas, das crianças, dos bichos. Sinto saudades!! Muitas saudades! Não estou mais esgotada. Não sobreponho a estafa aos melhores dos meus meus pensamentos. É muito rico pensar em alguém que gosto e sentir vontade de ficar alguns minutos conversando, sem pressa. Tem tantos de vocês, meus amigos, que estão vindo e voltando assim, em minhas saudades serenas. É maravilhoso sentir – em tempo e no tempo – o lado mais puro da saudade.
Sinto saudades sinceras!
Texto feito e publicado no Facebook em 3 de setembro de 2014
Pipoco
1 abrPipoco é repente
Explosão de verso
Implosão de impulso reverso
Pipoco é sentido
Atento, medido
Palavrinha ideal
Pipoco atemporal
Platôs
30 marPairo em platôs de sonhos
Sempre à procura de algum lugar longe de mim aqui e agora
Vivo dos respiros dos desejos
Tecendo histórias do impossível viver
Pairo em platôs de encantos
Ando num tempo que não é meu, nem seu, nem de lugar algum
Segredos de mim revelados
Nas costuras das minhas próprias veias
Suspiros platônicos de imaginação
Silêncios
29 marOuço gotas de chuva a respingar
Ouço com elas, soluços
Ouço o balanço do meu manacá
Ouço o pouso do tempo
Contemplo
Por dentro
Ouço ruídos
Ouço silêncios
Bem mais sonoros no fundo de mim
Que nas plumas ao vento
Reticência
27 marO que me liga é essência
O que me torna
O que me vida, reticência
O que me forma
O que me olvida, me seduz,
O que refaz
Me transforma, liquefaz
Amor de mulher
27 marTenho um amor aqui ao lado
Um amor de alma
Um amor de pele calma
Um amor de mãos corajosas
Um amor de seios fartos
Um amor de dedos fortes
Tenho um amor mulher aqui ao lado
Que se deita e me encaixa
Sob os mesmos lençóis
Que sutil me entrelaça
E em mim me desperta
O arrepio nas coxas
Tenho um amor mulher aqui ao lado
Um amor que me inunda
Um amor que aprofunda
O melhor do encontro
Mulher
Com outra mulher